Pesquisadores fazem estudo inédito de feto de baleia rara no litoral de SP; entenda
27/07/2025
(Foto: Reprodução) Pesquisadores da Unifesp, na Baixada Santista, realizaram a descrição inédita de feto de baleia rara
Divulgação
Um estudo inédito do Instituto de Ciências do Mar (IMar), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) no litoral paulista, fez a descrição e documentação anatômica de um feto de cachalote-pigmeu (Kogia breviceps). A espécie de baleia é raramente avistada na natureza, o que dificulta os estudos científicos.
O professor André Luis da Silva Casas, orientador do estudo, explicou que a anatomia fetal dos cetáceos [mamíferos marinhos] ainda é desconhecida para diversas espécies, incluindo a usada na pesquisa.
"Nosso estudo foi o primeiro a documentar de forma completa a anatomia de um feto pré-termo da espécie, além de utilizar técnicas de imagem para as descrições", comentou ele.
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O estudo, supervisionado por Casas e desenvolvido pela estudante de doutorado Lara Bennati Madureira e pelos coautores Gabriel Leandro Gomes e Kellen Adrian Curci Daros, foi publicado em um artigo na revista científica Anatomical Record, que é referência na área de anatomia e morfologia.
Estudo inédito
Casas explicou que o cachalote-pigmeu é raramente visto na natureza por tratar-se de uma espécie de comportamento críptico, ou seja, ariscos e difíceis de se observar quando estão na superfície. Por isso, o que se sabe sobre eles veio de estudos baseados na "rara observação de animais vivos".
"O encalhe destes animais não é tão comum quanto outras espécies de cetáceos, apesar de ocorrer esporadicamente na Baixada Santista, com dois indivíduos registrados nos últimos três anos", complementou o professor.
Por conta disso, o objetivo principal do estudo foi a documentação de aspectos da anatomia esquelética, esplâncnica (órgãos) e neurológica do animal, informações que, até então, eram desconhecidas para a espécie em tal fase do desenvolvimento.
"A expectativa era de que o espécime apresentasse novidades morfológicas em relação a espécimes adultos, o que posteriormente foi comprovado", disse.
Método
Pesquisadores realizaram a descrição e documentação anatômica inédita de um cachalote-pigmeu (Kogia breviceps)
Lara Bennati Madureira
O animal usado no estudo faz parte do acervo didático da universidade, e foi doado por pesquisadores do Instituto de Pesca de Santos após a fundação do IMar. O feto foi extraído de um cachalote-pigmeu fêmea, que encalhou e morreu em Santos (SP), em 11 de julho de 2000.
"Sabíamos que o animal se tratava de um espécime raro, então desenvolvemos uma forma de estudo que não utiliza métodos tradicionais de documentação anatômica, como a dissecção, que poderia causar danos", disse Casas.
Segundo Casas, primeiramente, o animal teve as características anatômicas externas documentadas por meio de biometrias e fotografias. Em seguida, o feto passou por uma tomografia realizada no Departamento de Diagnóstico por Imagem do Hospital São Paulo, na capital paulista.
Com os arquivos gerados no exame de tomografia, um modelo tridimensional do animal foi criado e, a partir disso, além das imagens geradas via exame, as características anatômicas foram evidenciadas, sendo ilustradas e descritas.
Resultados
Feto de cachalote-pigmeu foi submetido a exames de imagens com tomografia para realização de estudo
Divulgação
De acordo com Casas, diversos detalhes sobre a anatomia do animal puderam ser observados, incluindo padrões de desenvolvimento esquelético, formato e estrutura dos órgãos, além de estruturas diagnósticas da espécie, como o aparelho de ecolocalização especializado.
O estudo, segundo o professor, revelou aspectos pouco explorados sobre a anatomia fetal da espécie. "Concluímos que, apesar de refletir a anatomia dos indivíduos adultos, exemplares fetais da espécie podem conter informações pertinentes em relação a padrões evolutivos e filogenéticos".
Os resultados são importantes para futuros estudos da espécie, além de servir para novas descrições na área de biologia e paleontologia de cetáceos. "Consiste na primeira descrição anatômica completa de um espécime de cachalote-pigmeu nesta fase do desenvolvimento".
Casas reforçou que as técnicas não invasivas, como a tomografia, 'abrem portas' para o uso desta metodologia para futuros estudos anatômicos em espécimes raros.
"Conhecer o organismo dos animais pode permitir não apenas enriquecer futuros estudos anatômicos, mas também colaborar para um melhor diagnóstico e tratamento veterinário em programas de resgate e reabilitação, contribuindo também à conservação da espécie", finalizou ele.
Encalhe na região
Cachalote encalha em praia do litoral de SP e é resgatado com ajuda da população
Um cachalote-pigmeu (Kogia breviceps), espécie de cetáceo, foi resgatado após encalhar na praia de Mongaguá, no litoral de São Paulo. Segundo o Instituto Gremar, que está tratando o animal, trata-se de uma fêmea adulta que pesa cerca de 350 kg. Imagens mostram os banhistas buscando água no mar e acomodando o mamífero em um caminhão na faixa de areia (assista acima).
O Instituto Biopesca foi acionado para atender o animal machucado por volta de 15h de 29 de março deste ano, na praia do Centro. Nas imagens, é possível ver a população comemorando o sucesso do resgate.
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